domingo, 24 de junho de 2007

O Xadrez de Juliana, a Mãe (por Jean Poo)

Certo dia, fui chamado às pressas por Claude Echeverry, patrão de minha mãe. Ele informou-nos que eu e seu filho Luiz, o qual era um irmão para mim, iríamos passar uma temporada auxiliando os Chateaubriands. Explicou-nos porque nos enviaria: o patriarca da família havia falecido, sua esposa Monique e as duas filhas Sophie e Louise, desorientadas, haviam gastado todo o dinheiro que possuíam e estavam em uma situação financeira muito difícil. Eu e Luiz estávamos, portanto, incumbidos de salvar as Chateaubriands da miséria e administrar com lucidez os bens que ainda lhes restavam. Porém, sabíamos o porquê de tanta preocupação de Claude com aquela família: o amor que ele ainda nutria por Monique.
Chegando à casa das Chateaubriands, deparamo-nos com duas belas moças da alta sociedade trajando vestidos bem-costurados e uma mulher madura nada castigada pela idade. Apesar da simpatia de Sophie, minha atenção convergiu quase que exclusivamente para Louise. Sua delicadeza e meiguice cativaram-me desde o primeiro momento que a vi. Sua pessoa me transpassava uma paz interior ímpar. Eu estava apaixonado! Mas eu nada podia fazer. Luiz já começava a cortejar Louise com o apoio de Monique. Num contexto desses, o mero filho da empregada, apesar de ser instruído e haver estudado numa das melhores universidades da Europa, não possui a mínima chance de se envolver com uma mademoseille. Afinal, aquilo era o melhor que poderia acontecer mesmo, Luiz era um ótimo homem.
As semanas vinham e iam, eu não conseguia esconder mais minha paixão por Louise. Decidi então que iria conversar com ela. Decepcionei-me. Arrependi-me. Ela tratou-me como um cachorro, sem sentimentos. Disse-me que não me amava, que eu deveria deixá-la em paz. Comecei, então, a ignorá-la. Ao notar que algo estranho estava ocorrendo, Luiz veio ao meu encontro. Perguntou-me a razão do meu desentendimento com Louise. Eu, obviamente, não lhe contei a fim de não decepcioná-lo.
Certa manhã, surpreendentemente, Louise anunciou que não mais se casaria com Luiz. Devo admitir que fiquei feliz, mas que também não entendi absolutamente nada o que aconteceu. Mais estranho ainda foi a visita de Sophie na casa dos Echeverrys. Ela cordialmente desculpou-se com Luiz pelo sofrimento que sua irmã havia lhe causado. Sua fala doce e seu jeito gentil e carinhoso renderam a Sophie uma forte amizade com Luiz. Logo os dois já estavam casando-se.
Eu, porém, continuava só e desiludido. Louise me procurou algumas vezes dizendo que me amava e que havia me desprezado porque precisava do dinheiro de Luiz. Mas minha consciência não me deixava perdoar aquela que havia me humilhado.
O que eu não sabia era que o impacto da minha atitude seria tão grande. Quando soube que Louise viajaria para Lyon e pensei na possibilidade de nunca mais vê-la, estremeci. Corri até a sua casa e pedi-a em casamento na mesma hora, sem pensar duas vezes. Arranjei um bom emprego, noivamos e casamos.
Monique e Claude continuam amando-se, mas não se declaram um para o outro. Isso, porém, é apenas um detalhe diante dos bons tempos que passam atualmente as famílias Chateaubriand e Echeverry.